Jávier Godinho (*)
A imprensa apresenta, constantemente, fatos relacionados a manifestações de
racismo, fora e dentro do Brasil. E mostra, também, cenas terríveis de miséria
nos países mais devastados da África, onde homens, mulheres e crianças de pele
negra parecem mais esqueletos vivos, semelhantes às fotos dos seis milhões de
judeus exterminados nos campos de concentração nazistas.
Não seriam as esquálidas criaturas de hoje os mesmos homens que provocariam o
genocídio da Alemanha de Hitler, agora em novos corpos?
O racismo é, antes de tudo, uma demonstração de atraso espiritual e
desconhecimento das leis divinas. Aquele que diminui ou persegue o irmão pela
cor da pele ou por qualquer outra característica étnica, viola o grande
mandamento, síntese de toda a lei e dos profetas, "amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo."
Pela lei do carma, ou de causa e efeito, o racista sofrerá, em si próprio, a
inteireza do sofrimento provocado ao semelhante. Pagará até o último ceitil,
pois todo homem será punido naquilo em que pecar. "Quem com ferro fere, com
ferro será ferido"- na expressão do próprio Cristo.
Ensina "O Livro dos Espíritos" que os homens atuais são os mesmos Espíritos
que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, estando, ainda, muito longe
da perfeição. A raça de agora, que por seu crescimento tende a invadir toda a
Terra e substituir as raças que se extinguem, terá, também, a sua decadência.
Outras raças a substituirão, descendentes dela mesma, como os civilizados
contemporâneos descendem dos seres brutos e selvagens das eras primitivas. A
origem das raças perde-se na noite dos tempos. Como todas pertencem à grande
família humana, puderam misturar-se e produzir novos tipos. As múltiplas
variedades de um mesmo fruto não impedem que constituam uma só espécie.
No final de 1939, justamente quando o racismo nazista contra o povo judeu era
um dos determinantes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o espírito de
Emmanuel começava, no Grupo Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo, Minas
Gerais, a psicografar, através de Francisco Cândido Xavier, o livro "O
Consolador". Na obra, editada no ano seguinte pela Federação Espírita
Brasileira, Emmanuel considera justo o agrupamento nos países de múltiplas
coletividades pelos laços afins da educação e do sentimento. A política do
racismo, todavia, é encarada como um erro gravíssimo, que pretexto algum
justifica. O racismo não tem nenhuma base séria nas suas alegações que, na
realidade, só encobrem o propósito tenebroso do separatismo e da tirania.
Se todavia, nenhum dos argumentos acima convence o leitor, lembramos as
recentes descobertas da Arqueologia, dando-nos conta de que todos nós, seres
humanos, de qualquer raça, somos originários do Continente Africano.
E agora? Como fica o racismo?
(*) Jávier Godinho é jornalista da "Revista Espírita Allan Kardec", tendo
publicado esta matéria no número 34 daquela revista, em abril-junho de 1997.