quarta-feira, 26 de outubro de 2011

ESPINHOS DA MEDIUNIDADE

Revista Reformador, fevereiro de 1971


   Todos nós sabemos da grande responsabilidade que se assume no dia em que participamos de uma sessão espírita pretendendo o posto de interprete dos Espíritos.

   É natural o desejo de ser médium, de praticar o intercâmbio com o mundo dos Espíritos, de sustentar conversações com os nossos Guias Espirituais ou os nossos seres amados que partiram para o Além.

   Mas, o que muitos de nós ignoram é que os frutos bons que a mediunidade venha a dar dependem, dentre muitos outros quesitos importantes, do modo pelo qual ela é desenvolvida.

   Em verdade, a mediunidade não carece de ser provocada. Ela se apresentará naturalmente, em época oportuna, suave ou violentamente, conforme as faixas vibratórias que então nos envolvam, trate-se de espíritas ou de adeptos de outras religiões.

   Tratando-se de pessoa ponderada, estudiosa, fiel à idéia de Deus, dotada de boas qualidades morais, a mediunidade desponta, freqüentemente, com suavidade, pelos canais da fé e do auxilio ao próximo.

   Vemos, então, profitentes de quaisquer credos religiosos, o espírita inclusive, impondo as mãos sobre o sofredor e transmitindo o fluido generoso da cura, do alívio ao angustiado, da esperança ao aflito, sem que seja necessária a busca sistemática do desenvolvimento, a qual, se imprudente, na maioria dos casos tende a prejudicar o médium para sempre.

   E vemos também manifestações fortes, conflitos, enfermidades e até obsessões, cujo advento se processa, evidentemente, à revelia do indivíduo que lhes sofre os influxos.
Em tal acontecendo, é só orientar a mediunidade, instruir o médium, se ele desconhecer os princípios legados pela Doutrina Espírita; tratá-lo,se estiver doente, e deixá-lo praticar o bem com o dom recebido da Natureza.

   Todos esses exemplos, que diariamente se apresentam em nossos caminhos, pois conhecemos pessoas de outros credos religiosos que também curam com a imposição das mãos, são lições que devemos acatar.
Indicam que esses são os médiuns mais seguros porque espontâneos, cuja faculdade floresceu em tempo preciso, sem necessidade de longos períodos, incômodos e muitas vezes contraproducentes, das provocações do desenvolvimento.

   Ora, freqüentemente somos solicitado por candidatos ao exercício da mediunidade para esclarecimento sobre a sua própria situação de pretendentes ao intercâmbio com o Invisível.
Sentem-se confusos, inquietos, vacilantes, sem nada obterem de positivo depois de um, dois e mais anos de esforços para o desenvolvimento, fato por si só bastante para indicar os pouquíssimos recursos mediúnicos do candidato, que entretanto é sincero e bem assistido pelo seu Espírito familiar, não se deixando enlear pela auto-sugestão.

   Que esforços, porém, faz ele? Apenas a presença à mesa de sessões, a insistência aflitiva para que possa escrever mensagens, coisas belas, ou fazer oratórias que satisfaçam.

   Muitas vezes, senão de modo geral, o desenvolvimento advém não propriamente da faculdade mediúnica, mas da própria mente do médium, que assim se estimula, e então se dá o menos desejado: a subconsciência do médium a agir por si mesma, excitada pelo esforço e a vontade, como sendo um agente desencarnado; sua mente a externar-se em comunicações apócrifas, que só servem para empanar a verdadeira faculdade e empalidecer o brilho desse dom sublime outorgado por Deus ao homem.

   Muitos dos que insistem no desenvolvimento mediúnico asseveram que determinado Espírito lhes afiançou que são médiuns dessa ou daquela especialidade; psicógrafos, de incorporação, de vidência, etc. No entanto, os mestres da Doutrina Espírita, com Allan Kardec e Leon Denis à frente, e os Instrutores Espirituais que merecem fé ( porque há os pseudo-mentores espirituais) desde sempre observaram que "não há nenhum indício pelo qual se reconheça a existência da faculdade mediúnica. Só a experiência pode revelá-la. Mesmo que tal faculdade seja de psicografia, de incorporação ou outra qualquer.

   Poderemos, certamente, experimentar as nossas potencialidades. Mas, a prática tem demonstrado que a experiência não deverá ultrapassar de alguns poucos meses, caso nada se obtenha nesse período, justamente para que a faculdade eventual seja protegida contra a invasão de fenômenos outros, também psíquicos, mas não mediúnicos; fenômenos que o linguajar moderno trata de parapsicológicos, e aos quais nós outros até agora temos denominado de animismo, personismo, auto-sugestão, etc.

   O imoderado desejo de ser médium vai às vezes ao ponto de se exercitar a vidência. Ora, a vidência é a faculdade melindrosa por excelência, que não poderá suportar tal tratamento sem sofrer sérios distúrbios.
  
   De modo algum pode ser provocada, a menos que se deseje sugestionar-se de que está vendo alguma coisa, elaborando então os chamados clichês mentais, a ideoplastia ( a idéia plasmada na mente pela vontade).É bom não esquecer que o pensamento é criador, constrói, realiza, mesmo que não concretize materialmente aquilo que mentaliza ( ver o capítulo VIII de "O Livro dos Médiuns).

   A respeito desses espinhos que às vezes laceram os que tentam a mediunidade, fez o sábio analista Ernesto Bozzano preciosas observações em seu elucidador livro "Pensamento e Vontade"; Leon Denis, o continuador de Allan Kardec, em seu compêndio "No Invisível", brinda-nos com esclarecimentos substanciosos, enquanto Kardec, além das lições gerais, diz o seguinte sobre a vidência: "A faculdade de ver os Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma das que convém esperar o desenvolvimento natural, sem o provocar, em não se querendo ser joguete da própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela se manifesta de si mesma. Em princípio, devemos contentar-nos com as que Deus nos outorgou, sem procurarmos o impossível, por isso que, pretendendo ter muito, corremos o risco de perder o que possuímos.Quando dissemos serem freqüentes os casos de aparições espontâneas, não quisemos dizer que são muito comuns. Quanto aos médiuns videntes, propriamente ditos, ainda são mais raros e há muito que desconfiar dos que se inculcam portadores dessa faculdade. É prudente não se lhes dar crédito, senão diante de provas positivas(...)."

   Da advertência do mestre insigne, deduzimos, portanto, que é absurdo ( a experiência vem demonstrando que assim é) fazer exercícios visando ao desenvolvimento da vidência, bem como entregar-se a professores de vidência.A vidência é manifestação espírita como qualquer outra e, portanto, os seus registros devem ser examinados por pessoas competentes e experientes, que os passarão pelo crivo da razão e do bom senso, a fim de serem aceitos.

   Pouco sabemos ainda sobre a mediunidade. Intensamente, porem, sentimos e presenciamos os seus efeitos. Achamo-nos ainda nas preliminares da questão, não obstante datar a mediunidade de todos os tempos, o que revela ser um dom outorgado por Deus. Mas, o que dela se sabe, apesar da ignorância em que nos encontramos a seu respeito, já cabe em vários volumes, como realmente vem cabendo, pois diversos livros existem sobre o magno assunto.

   Uma das mais importantes faces da mediunidade, e que não podemos ignorar, porque o Alto disso nos esclarece e a observação confirma, é que a prática da Caridade e do Amor para com o próximo não somente é indispensável ao bom desenvolvimento da faculdade, mas também garantia poderosa ao seu exercício feliz. Não, certamente, a prática de uma caridade de fachada, interesseira, mas sim inspirada no verdadeiro sentimento do coração. Desse modo, o candidato a interprete do mundo espiritual deve iniciar o seu compromisso não só pela freqüência às sessões mediúnicas, mas pela prática do Bem, pelo auxílio ao sofredor, alem do estudo consciencioso e do empenho em prol da reforma moral gradativa de si mesmo.

   Agindo assim, no momento em que advenham os sinais indicadores de que realmente possui faculdades a desenvolver, estas se apresentarão suavemente, sem choques, por se acharem protegidas pelas faixas vibratórias da Caridade.

   E será bom repisar: convém não precipitar o desenvolvimento mediúnico. O seu progresso é lento; a mediunidade, ao que tudo indica, desdobra-se, indefinidamente, e um médium nunca estará completamente desenvolvido, mormente nos dias penosos da atualidade, quando mil problemas se entrechocam ao seu derredor. Quanto mais a cultivarmos, com submissão às leis divinas, mais ela se ampliará, crescerá no rumo dos conhecimento espirituais.

   Não existem, pois, médiuns extraordinários, não existem eleitos na mediunidade. Por conseguinte, não nos devemos fanatizar pela mediunidade, endeusando os médiuns como se fossem homens e mulheres à parte na escala humana. Eles são apenas instrumentos, ora bons, ora maus, das forças invisíveis do Além, consoante o modo pelo qual dirijam os próprios atos cotidianos. E deixarão de ser médiuns se os Espíritos não mais puderem ou quiserem se servir deles.

   Convém, pois, que os candidatos ao mediunato meditem bastante ao se aprestarem para o papel que representarão na seara de Jesus, o Mestre por excelência. A mediunidade é, certamente, um dom, entre os muitos que Deus concede às almas criadas à sua imagem e semelhança. E a um dom de Deus devemos, necessariamente, amar, respeitar e cultivar com sensatez e prudência.

EUTANÁSIA, MORTE PIEDOSA OU HOMICIDIO?

Ruy Gibim

    A eutanásia é um assunto polêmico que vem suscitando celeumas nos meios jurídicos, médicos e religiosos. Em alguns países, foram feitas tentativas no sentido de legalizar a Eutanásia, entretanto, dificilmente tal lei terá chances de ser aprovada, pois trata-se da eliminação não dolorosa de doentes portadores de moléstias incuráveis ou irreversíveis, tais como: câncer, aids, estado de coma, sono letárgico, etc...

    No aspecto jurídico, a nossa Constituição, através do Direito Penal Brasileiro é incisivo e conclusivo: a Eutanásia constitui assassínio comum.

    Sob o ponto de vista de ética médica, Hipócrates, pai da Medicina, deixou bem claro no juramento que até hoje é repetido na diplomação de novos médicos; considera a vida como um dom sagrado e veda ao médico a pretensão de ser juiz da vida ou da morte de alguém, condenando tanto a Eutanásia como o aborto.

    No aspecto moral ou religioso, os riscos seriam incalculáveis: primeiro, o médico é falível e poderá errar no diagnóstico; segundo, os interesses de herdeiros apegados e mesquinhos; terceiro incapacidade de participar da dor alheia; quarto, egoísmo dos familiares para livrar-se de uma assistência demorada, penosa e cara.

    Além disso, não são poucos os casos de pessoas desenganadas pela Medicina oficial e tradicional que procuram outras alternativas e logram curas espetaculares, seja através da imposição das mãos, da fé, do magnetismo, da homeopatia, de simpatias ou propósitos de mudanças comportamentais.

    Em nossa caminhada evolutiva, existem episódios, ocorrências, dramas, tragédias, circunstâncias e fatos que irão exigir de nós experiências difíceis na própria carne, para superar barreiras e obstáculos, e muitas vezes são necessários o suor e as lágrimas; a dor e os padecimentos para a nossa transformação e evolução.

    Como pesquisador já presenciei muitos casos de criaturas com quadros clínicos de doenças incuráveis e desenganados em que o magnetismo posto em atividade pela imposição das mãos conseguiu modificar o diagnóstico médico e restabelecer o campo celular, porém para que isto ocorra são necessários alguns requisitos, há necessidade de concentrar o plasma divino através da fé ativa, da confiança, da certeza, da segurança íntima, do merecimento, das conquistas alcançadas e das obras praticadas.
   
    Não existem doenças e sim doentes, toda enfermidade são criações nossas, repercussões de nossos próprios atos, que precisamos desfazer, a fim de nos ajustarmos ao equilíbrio e harmonia.
   
    Eis o motivo pelo qual, a Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo, refuta a Eutanásia em virtude da mesma ser uma usurpação do direito sobre a vida humana, reservado ao Criador, afirmando que toda criatura tem o direito de viver e apresenta como base de toda justiça social a aplicação do princípio: "Não façais aos outros, aquilo que não quiserdes que os outros vos façam".

Ruy Gibim
Professor, Sociólogo, Pesquisador e
Presidente do Grupo de Estudos Psíquicos
Professora Anália Franco - Araraquara - SP

(Revista Espírita Allan Kardec Nº 5)

O ABORTO NA VISÃO ESPÍRITA

I – Considerações Doutrinárias


A Doutrina Espírita trata clara e objetivamente a respeito do abortamento, na questão 358 de sua obra básica O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec:

Pergunta – Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

Resposta – “Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando”.
Sobre os direitos do ser humano, foi categórica a resposta dos Espíritos Superiores a Allan Kardec na questão 880 de O Livro dos Espíritos:

Pergunta – Qual o primeiro de todos os direito naturais do homem?

Resposta – “O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal”.

Início da Vida Humana


Para a Doutrina Espírita, está claramente definida a ocasião em que o ser espiritual se insere na estrutura celular, iniciando a vida biológica com todas as suas conseqüências. Na questão 344 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga aos Espíritos Superiores:

Pergunta – Em que momento a alma se uns ao corpo?

Resposta – “A união começa na concepção, mas só é completa por ocasião do nascimento. Desde o instante da concepção o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até ao instante em que a criança vê a luz. O grito, que o recém-nascido solta, anuncia que ela se conta no número dos vivos e dos servos de Deus.”
As ciências contemporâneas, por meio de diversas contribuições, vêm confirmando a visão espírita acerca do momento em que a vida humana se inicia. A Doutrina Espírita firma essa certeza definitiva, estabelecendo uma ponte entre o mundo físico e o mundo espiritual, quando oferece registros de que o ser é preexistente à morte biológica.
A tese da reencarnação, que o Espiritismo apresenta como eixo fundamental para se compreender a vida e o homem em tua sua amplitude, hoje é objeto de estudo de outras disciplinas do conhecimento humano que, através de evidências científicas, confirmam a síntese filosófica do Espiritismo: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a Lei.”
Assim, não se pode conceber o estudo do abortamento sem considerar o princípio da reencarnação, que a Parapsicologia também aborda ao analisar a memória extracerebral, ou seja, a capacidade que algumas pessoas têm de lembrar, espontaneamente, de fatos com elas ocorridos, antes de seu nascimento. Dentro da lei dos renascimentos se estrutura, ainda, a terapia regressiva a vivências passadas, que a Psicologia e a Psiquiatria utilizam no tratamento de traumas psicológicos originários de outras existências, inclusive em pacientes que estiveram envolvidos na prática do aborto.

 

Aborto Terapêutico


O procedimento abortivo é moral somente numa circunstância, segundo O Livro dos Espíritos, na questão 359, respondida pelos Espíritos Superiores:

Pergunta – Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mão dela,
haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?

Resposta – “Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe.’
(Os Espíritos referem-se, aqui, ao ser encarnado, após o nascimento.)
Com o avanço da Medicina, torna-se cada vez mais escassa a indicação desse tipo de abortamento. Essa indicação de aborto, todavia, com as angústias que provoca, mostra-se como situação de prova e resgate para pais e filhos, que experimentam a dor educativa em situação limite, propiciando, desse modo, a reparação e o aprendizado necessários.

 

Aborto por Estupro


Justo é se perguntar, se foi a criança que cometeu o crime. Por que imputar-lhe responsabilidade por um delito no qual ela não tomou parte?
Portanto, mesmo quando uma gestação decorre de uma violência, como o estupro, a posição espírita é absolutamente contrária à proposta do aborto, ainda que haja respaldo na legislação humana.
No caso de estupro, quando a mulher não se sinta com estrutura psicológica para criar o filho, cabe à sociedade e aos órgãos governamentais facilitar e estimular a adoção da criança nascida, ao invés de promover a sua morte legal. O direito à vida está, naturalmente, acima do ilusório conforto psicológico da mulher.

 

Aborto “Eugênico” ou “Piedoso”


A questão 372 de O Livro dos Espíritos é elucidativa:

Pergunta – Que objetivo visa a providência criando seres desgraçados, como os cretinos e os idiotas?

Resposta – “Os que habitam corpos de idiotas são Espíritos sujeitos a uma punição. Sofrem por efeito do constrangimento que experimentam e da impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante órgãos não desenvolvidos ou desmantelados.”
Fica evidente, desse modo, que, mesmo na possibilidade de o feto ser portador de lesões graves e irreversíveis, físicas ou mentais, o corpo é o instrumento de que o Espírito necessita para sua evolução, pois que somente na experiência reencarnatória terá condições de reorganizar a sua estrutura desequilibrada por ações que praticou em desacordo com a Lei Divina. Dá-se, também, que ele renasça em um lar cujos pais, na grande maioria das vezes, estão comprometidos com o problema e precisam igualmente passar por essa experiência reeducativa.

 

Aborto Econômico


Esse aspecto é abordado em O Livro dos Espíritos, na questão 687:

Pergunta – Indo sempre a população na progressão crescente que vemos, chegará tempo em que seja excessiva na Terra?

Resposta – “Não, Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele coisa alguma inútil faz. O homem, que apenas vê um canto do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto.”
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXV, a afirmativa de Allan Kardec é esclarecedora: “A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as províncias de um mesmo império, o momentânea supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência de outro; e cada um terá o necessário.”
Convém destacar, ainda, que o homem não é apenas um consumidor, mas também um produtor, um agente multiplicador dos recursos naturais, dominando, nesse trabalho, uma tecnologia cada vez mais aprimorada.

 

O Direito da Mulher


Invoca-se o direito da mulher sobre o seu próprio corpo como argumento para a descriminalização do aborto, entendendo que o filho é propriedade da mãe, não tem identidade própria e é ela quem decide se ele deve viver ou morrer.
Não há dúvida quanto ao direito de escolha da mulher em ser ou não ser mãe. Esse direito ela o exerce, com todos os recursos que os avanços da ciência têm proporcionado, antes da concepção, quando passa a existir, também, o direito de um outro ser, que é o do nascituro, o direito à vida, que se sobrepõe ao outro.
Estudos científicos recentes demonstram o que já se sabia há muito tempo: o feto é uma personalidade independente que apenas se hospeda no organismo materno. O embrião é um ser tão distinto da mãe que, para manter-se vivo dentro do útero, necessita emitir substâncias apropriadas pelo organismo da hospedeira como o objetivo de expulsá-lo como corpo estranho.

 

Conseqüências do Aborto


Após o abortamento, mesmo quando acobertado pela legislação humana, o Espírito rejeitado pode voltar-se contra a mãe e todos aqueles que se envolveram na interrupção da gravidez. Daí dizer Emmanuel (Vida e Sexo, psicografado por Francisco C. Xavier, cap. 17, ed. FEB): “Admitimos seja suficiente breve meditação, em torno do aborto delituoso, para reconhecermos nele um dos fornecedores das moléstias de etiologia obscura e das obsessões catalogáveis na patologia da mente, ocupando vastos departamentos de hospitais e prisões”.
Mulher e homem acumpliciados nas ocorrências do aborto criminoso desajustam as energias psicossomáticas com intenso desequilíbrio, sobretudo, do centro genésico, implantando nos tecidos da própria alma a sementeira de males que surgirão a tempo certo, o que ocorre não só porque o remorso se lhes estranha no ser mas também porque assimilam, inevitavelmente, as vibrações de angústia e desespero, de revolta e vingança dos Espíritos que a lei lhes reservava para filhos.
Por isso compreendem-se as patologias que poderão emergir no corpo físico, especialmente na área reprodutora, como o desaguar das energias perispirituais desestruturadas, convidando o protagonista do aborto a rearmonizar-se com a própria consciência.

 

No Reajuste


Ante a queda moral pela prática do aborto não se busca condenar ninguém. O que se pretende é evitar a execução de um grave erro, de conseqüências nefastas, tanto individual como socialmente, como também sua legalização. Como asseverou Jesus: “Eu também não te condeno; vai e não tornes a pecar.” (João, 8:11.)
A proposta de recuperação e reajuste que o Espiritismo oferece é de abandonar o culto ao remorso imobilizador, a culpa autodestrutiva e a ilusória busca de amparo na legislação humana, procurando a reparação, mediante reelaboração do conteúdo traumático e novo direcionamento na ação comportamental, o que promoverá a liberação da consciência, através do trabalho no bem, da prática da caridade e da dedicação ao próximo necessitado, capazes de edificar a vida em todas as suas dimensões.
Proteger e dignificar a vida, seja do embrião, seja da mulher, é compromisso de todos os que despertaram para a compreensão maior da existência do ser.
Agindo assim, evitam-se todas as conseqüências infelizes que o aborto desencadeia, mesmo acobertado por uma legalização ilusória. “O amor cobre a multidão de pecados”, nos ensina o apóstolo Pedro (I Epístola, 4:8).

 

II – Considerações Legais e Jurídicas


Alteração do Código Penal
Tramita no Congresso Nacional Projeto de Lei que altera o Código Penal Brasileiro, nos seus artigos 124 a 128, elaborado por uma comissão especialmente criada com esse fim, e que já recebeu a acolhida do Ministério da Justiça e da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
O Código vigente, Decreto-Lei 2.848, de 7-12-1940, pune o aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento (art. 124), o aborto provocado por terceiro (art. 125), o aborto provocado com o consentimento da gestante (art. 126), e prevê formas qualificadas em caso de superveniência de lesões graves ou morte da gestante (art. 127). No art. 128, expressa não ser punível o aborto praticado por médico: “(...) II – Se a gravidez resultante de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”, além, claro, daquele autorizado para salvar a vida da gestante (inciso I).
O anteprojeto de alteração do Código Penal Brasileiro vai além, em especial no seu artigo 128, com a ampliação de sua área de abrangência, ou seja, permitindo a prática do aborto: a) não só quando houver perigo de vida à gestante, mas também para, em caráter amplo, “preservar a saúde” da mulher (inciso I), ou b) não só em razão da gravidez originada de estupro, mas também quando a gravidez for resultado da “violação da liberdade sexual ou do emprego não consentido de técnica de reprodução assistida” (inciso II) e c) quando houver fundada probabilidade de o nascituro apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais, mediante constatação e atestado afirmado por dois médicos (inciso III).
Dada a gravidade da questão, eis que as alterações propostas ampliam a descriminalização do aborto e implicam o poder de decidir sobre a vida de um ser humano já existente e em desenvolvimento no ventre materno, oferecendo à gestante inúmeras alternativas legais, não há como permanecer em silêncio, sob a pena de conivência com um possível procedimento que, frontalmente, fere o direito à vida, cuja inviolabilidade tem garantia constitucional. À vista dessas propostas, é necessário que se dê ênfase à responsabilidade assumida por todos quantos participem da perpetração do ato criminoso, desde a atividade legislativa e sua promulgação, convertendo em lei o leque abrangente da prática do abortamento, até quem o autoriza, com ele consente e o executa.
Vale notar que existem outros projetos de lei no Congresso sob o mesmo enfoque e, recentemente, o Sr. Ministro da Saúde, através de Norma Técnica, procurou antecipar a prática de procedimentos abortivos no sistema SUS.

 

O Direito À Vida


O direito à vida é amplo, irrestrito, sagrado em si e consagrado mundialmente. No que tange ao direito brasileiro, a “inviolabilidade do direito à vida” acha-se prevista na Constituição Federal (artigo 5º “caput”), o primeiro entre os direitos individuais, quando essa lei básica, com ênfase, dispõe sobre os direitos e garantias fundamentais.
O ser humano, como sujeito de direito no ordenamento jurídico brasileiro, existe desde a sua concepção, ainda no ventre materno. Essa afirmativa é válida porque a ciência e a prática médica, hoje, não têm dúvida alguma de que a criança existe desde quando fecundado o óvulo pelo espermatozóide, iniciando-se, aí, o seu desenvolvimento físico. Tanto correta é essa afirmativa que, no ordenamento jurídico brasileiro, há a previsão legal de que “a personalidade civil do homem começa pelo nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro” (artigo 4º do Código Civil – grifou-se). Entre esses direitos está, além daqueles que ostentem caráter meramente econômico ou financeiro, o primeiro e o mais importante deles, vale dizer, o direito à vida.
Surge, aqui, uma conclusão: a de que a determinação de respeito aos direitos do nascituro acentua a necessidade legal, ética e moral de existir maior e quase absoluta limitação da prática do abortamento. Uma exceção, apenas, há: quando for constado, efetivamente, risco de vida à gestante.
Essa limitação quase absoluta da permissibilidade do abortamento, com a exclusão da responsabilidade tão-somente no caso do inciso I do artigo 128 do atual Código Penal (risco de vida à gestante), afasta, moralmente, a possibilidade do abortamento em virtude do estupro (constrangimento da mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça), embora permitido no inciso II do dispositivo legal em tela. Isso porque, analisando-se o fato à luz da razão e deixando de lado, por ora, os reflexos do ato, na gestante, estar-se-ia executando autêntica pena de morte em um ser inocente, condenado sem que tivesse praticado qualquer crime e – o que se afigura pior e cruel -, sem que se lhe facultasse o direito de defender-se, direito esse conferido,legalmente e com justiça, até àqueles acusados dos crimes os mais hediondos.
Eis a razão do grito de repúdio ás propostas de alteração do Código Penal pátrio e, conseqüentemente, do alerta em defesa da vida, já que, no caso do abortamento, o destinatário do direito a ela se acha impossibilitado de exercê-lo. E mais: penalizam-se duas vítimas, a mãe que se submeterá ao abortamento, cuja prática pode gerar conseqüências físicas indesejáveis, além das de ordem psicológica, e o filho, cuja vida é interrompida, enquanto que o agressor, muitas vezes, remanesce impune, dadas as dificuldades que ocorrem, geralmente, na apuração da autoria do crime cometido.
Diante dessa situação, deve ser preservada a vida da criança como dádiva divina que é não obstante as circunstâncias que envolveram a sua concepção. Se, contudo, a mãe não se sentir com estrutura psicológica para aceitar um filho resultante de um ato sexual indesejado, a atitude que se afigura correta e justa é que se promova sua adoção por outrem, oferecendo-se a ele um lar onde possa ser criado e educado, enquanto é desenvolvido trabalho para reequilíbrio da mãe, com a superação (ainda que lenta e dolorosamente, mas saudável para seu crescimento moral, social e espiritual) dos efeitos nocivos do crime de que foi vítima. Não será, evidentemente, o sacrifício de um ser sem culpa, que desabrocha para a vida, que resolverá eventuais traumas da infeliz mãe, sem falar na possibilidade de sofrer ela as conseqüências físicas e psicológicas já referidas, além do reflexo negativo de natureza espiritual.
Há necessidade urgente de que se tenha consciência do crime que se pratica quando se interrompe o curso da vida de um ser. Não importa se, como no caso, esse curso esteja em sua fase inicial. Não se pode, conscientemente, acobertá-lo com o manto de questionável “legalidade”,
Cabe a cada um de nós amar a vida e dignificá-la, tanto quanto cabe aos homens públicos e, principalmente, aos legisladores e governantes criar as condições necessárias para que o respeito à vida e aos direitos humanos (inclusive do nascituro), a solidariedade e a ajuda recíproca sejam não só enunciados, mas praticados efetivamente, certos, todos, de que, independentemente da convicção religiosa ou doutrinária de cada um, não há dúvida de que somos seres criados por Deus, cujas Leis, entre elas, a maior, a Lei do Amor, regem nossos destinos.
Espera-se que, como resultado deste alerta que o quadro social está a sugerir, possa ser vislumbrada a gravidade contida nas alterações legislativas propostas. É urgente e necessário que todas as consciências responsáveis visualizem, compreendam e valorizem o cerne do problema em questão – o direito à vida -, somando-se, em conseqüência, àqueles muitos que, em todos os segmentos da sociedade, o defendem intransigentemente.
A análise e as conclusões aqui expostas, como decorrência lógica do pensamento espírita-cristão sobre o aborto, representam contribuição à ética, à moral e ao direito do ser humano à vida. Não há, no contexto desta mensagem, a pretensão de que todos que a lerem aceitem os princípios do Espiritismo. Espera-se, todavia, confiantemente, que haja maior reflexão sobre tão importante assunto, notadamente ante a observação de que conquistas científicas e médicas atuais, comprovando de forma irrefutável a existência de um ser desde a concepção com direito à vida, oferecem esclarecimentos e razões que orientam para que se evite qualquer ação, cujo significado leve à agressão à vida do ser em formação no útero materno. Afigura-se, assim, de suma importância qualquer manifestação de repúdio aos propósitos da alteração legislativa referida. Esse o objetivo desta mensagem.
Enquanto nós, os homens, cidadãos e governantes, não aprendermos a demonstrar amor sincero e acolhimento digno aos seres que, de forma inocente e pura, buscam integrar o quadro social da Humanidade, construindo, com este gesto de amor, desde o início, as bases de um relacionamento realmente fraternal, não há como se pretender a criação de um ambiente de paz e solidariedade tão ansiosamente esperado em nosso mundo.
Não há como se pretender que crianças, jovens e adultos não sejam agressivos, se nós os ensinamos com o nosso comportamento, logo de início, e até legalmente, a serem tratados com desamor e com violência.

 

Amor à Vida! Aborto, não!


(Este texto – O aborto na visão espírita – aprovado pelo Conselho Federativo Nacional em sua Reunião Ordinária de 13 a 15 de novembro de 1999, em Brasília, constitui o documento que a FEB está levando, como esclarecimento, à consideração das autoridades do Governo Federal, do Congresso Nacional e do Poder Judiciário. As Entidades Federativas estaduais, por sua vez, realizam o mesmo trabalho junto aos Governadores, Deputados Estaduais, Prefeitos, Vereadores, outras autoridades e ao público em geral, em seus Estados.)

Revista Reformador, Nº 2051, Fevereiro de 2000

NO VELÓRIO, TENHA PIEDADE DO MORTO!

Jávier Godinho

   Quem vai a um velório sem consciência de que aquele é um lugar de muito respeito, de oração sentida e de bons pensamentos, não imagina o mal que pode estar causando ao morto. Sua falta de educação e sua insensibilidade são dolorosas a quem se despede deste mundo.

   Em primeiro lugar, o espírito que deixa o corpo entra imediatamente num ciclo de perturbação, para se desligar do corpo que não lhe serve mais, o que pode demorar poucas horas, meses ou até anos, variando de acordo com seu adiantamento moral. Nessa passagem, o espírito prepara-se para longo sono, do qual despertará sem noção de tempo e espaço, até se adaptar à nova dimensão. Será como um mergulhador que retorna numa cápsula do fundo do mar para a quarentena de adaptação a seu ambiente natural.

   Assim, num momento tão crucial, ter em sua volta pessoas que, a título de dele se despedir, fazem do cemitério uma esquina a mais do Café Central, discutindo política, negócios e futebol, quando não coisas piores, obviamente lhe tornará mais penosa a travessia entre dois mundos. Mais do que nunca, o espírito precisa de vibrações de harmonia, que só se formam através da prece sincera e de ondas mentais positivas.

   Ensina O Livro dos Espíritos que a separação não se opera instantaneamente. A alma se liberta gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que, de repente, ganhasse a liberdade. Esferas material e espiritual se tocam e se confundem e o espírito se liberta, pouco a pouco, dos laços que o prendem ao corpo. Os laços se desatam, não se quebram. É por isso que desenlace é sinônimo de falecimento. Em vida, o espírito fica preso ao corpo através do seu envoltório semi-material ou perispírito. A morte é a destruição somente do corpo e não do perispírito.

   A perturbação que se segue à morte nada tem de dolorosa para o justo, aquele que esteve na Terra sintonizado com o Céu, errando por ser humano, mas decidido na prática sistemática do bem. Para os que viveram presos ao egoísmo, escravos dos vícios e ambições mundanas, a morte é uma noite, cheia de horrores, ansiedades e angústias. Nos casos de morte coletiva, todos os que perecem ao mesmo tempo nem sempre se revêem. Na perturbação comum, cada qual vai para seu lado ou se preocupa apenas com aqueles que lhe interessam.

   No seu instrutivo livro Quem tem medo da morte?, Richard Simonetti considera que basicamente o espírito permanece ligado ao corpo enquanto lhe são muito fortes as impressões da existência física. Os materialistas, que fazem da jornada terrena um fim em si, que não cogitam objetivos superiores, escravos de paixões, ficam retidos por muito tempo, até que a impregnação animalizada de que se revestem seja reduzida a níveis compatíveis com o desligamento.
  
   Certamente os benfeitores espirituais podem fazer de imediato o desligamento, o que não é aconselhável, porquanto o falecido teria dificuldades maiores para se reajustar às realidades espirituais. O que aparentemente sugere castigo para quem não viveu existência condizente com os princípios cristãos, é na verdade misericórdia divina. Não obstante o constrangimento e as sensações desagradáveis que venha a enfrentar, na contemplação de seus despojos carnais em decomposição, tal circunstância é menos traumatizante do que o desligamento precipitado.

   O burburinho das conversas vazias e dos comentários irresponsáveis, assim como os desvarios dos inconformados e o desequilíbrio dos descontrolados, repercutem negativamente na percepção de quem está indo embora. Quem conhece os problemas que envolvem o viajor tem o indeclinável dever de contribuir para que os velórios se transformem em ambientes de compostura e serenidade. Richard Simonetti ensina-nos esse caminho:
   – Sejamos comedidos. Cultivemos o silêncio, conversando, se necessário, mas em voz baixa, de forma edificante. Falemos no morto com discrição, evitando pressioná-lo com lembranças e emoções passíveis de perturbá-lo, principalmente se forem trágicas as circunstâncias do seu falecimento. E oremos muito em seu benefício. Se não conseguirmos manter semelhante comportamento, melhor será que nos retiremos, evitando engrossar o barulhento coro de vozes e vibrações desrespeitosas, que tanto atrapalham o morto.

   Como quem não ouve conselho ouve coitado, fica aqui a receita da lógica e da razão, porque recebemos exatamente o que oferecemos aos nossos semelhantes. Lembremo-nos de que, mais dia menos dia, também nos encontraremos de pés juntos, deitados numa urna mortuária e ainda atados às impressões da vida física.

   Desejaremos, então, que nos respeitem a memória e não conturbem nosso desligamento, amparando-nos nos valores inestimáveis do silêncio e da oração, da tranqüilidade e da compreensão, a fim de atravessarmos com segurança, conforto e rapidez, os umbrais da Vida Eterna. E pela lei de causa e efeito, vigente em tudo no Universo, teremos em nós o que fizemos aos outros.

Fonte: Jávier Godinho - Diário da Manhã

PÁGINA ESPÍRITA PARA REFLEXÃO SOCIAL

O ESPIRITISMO E A POLÍTICA CONTRIBUINDO PARA O MUNDO DE
REGENERAÇÃO

“O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por isso é ele contemporâneo desse movimento. Surgiu na hora em que podia ser de utilidade, visto que também para ele os tempos são chegados.” ( A Gênese,
Allan Kardec, cap.XVIII, item 25 – g.n.)

O ESPIRITISMO

A Doutrina Espírita apresenta tríplice aspecto: Filosofia, Ciência e Religião, por isso ela se relaciona com todas as áreas do conhecimento humano.
Seus princípios embasam a ação transformadora no aprimoramento da pessoa e da sociedade.
No contexto social ela propõe ações sociais que podem ser compreendidas como ações políticas devidamente compatíveis com as análises e propostas das Ciências Sociais.
Sob esse aspecto o Espiritismo estuda e traz importantes informações
relacionadas com a Ciência Política e a Ética.

Analisemos, então:

POLÍTICA

A política, sob a análise da Ciência Política, é a ciência e a arte da
administração justa para o bem comum.
Sob esse aspecto ela se serve dos conhecimentos de outras ciências sociais, como: a sociologia, a antropologia, a história e a economia.
Seu objetivo é o aprimoramento da estrutura da sociedade a fim de que ela seja mais justa e solidária.
É, também, a proposta do Espiritismo. Disseram os Mentores Espirituais na questão nº 930 de O Livro dos Espíritos: “ Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome”.
E Allan Kardec, em seguida, esclarece: “ Com uma organização social
criteriosa e previdente, ao homem só por sua culpa pode faltar o necessário.
Porém suas próprias faltas são frequentemente resultado do meio onde se acha colocado.
Quando praticar a lei de Deus terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor.”
Nesse ponto, o Espiritismo já assinalava a necessidade dos estudos e ações propostos pela Ciência Política.
Portanto, nesse sentido, a Política e o Espiritismo não se repelem.


POLÍTICA PARTIDÁRIA
A outra conotação do termo política é a política partidária, que nada tem a ver com a corrupção, falsificação, desonestidade e falta de ética.
Na organização e funcionamento dos países democráticos a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, proclamada pela ONU, em 1948, regem as
Constituições, as leis e inspiram a estrutura e organização social que se assentam nos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Essa é organização social ideal, embora as imperfeições que ainda possa ter.
Os cargos dos poderes: Executivo e Legislativo são preenchidos pelo sistema de eleição de pessoas que se candidatam, através do voto, por intermédio dos partidos legalmente registrados.
Logo, para se manter esse processo livre e democrático a existência dos partidos políticos é fundamental. Eles, como organização política, não são responsáveis pelas pessoas de mau caráter que se filiam.
Diferente é o poder judiciário, pela sua função técnica. Seus cargos são
preenchidos por pessoas que, devidamente habilitadas em conhecimentos científicos e técnicos das Ciências: Jurídica e Social se submetem a concurso público para preenchimento das vagas.
Consequentemente, a existência da política partidária, através da pluralidade de partidos é fundamental nos Estados democráticos, afastando os regimes totalitários de direita ou de esquerda, que não permitem a liberdade.
Nesse ponto, cabe o alerta que os Mentores Espirituais fizeram quando Kardec
indagou:
- “ Porque, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?
- Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons tímidos.
Quando estes o quiserem, preponderarão.” ( Questão nº 932 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Ed. FEB)

Portanto, é na hora do voto que os cidadãos de bem precisarão afastar os” maus candidatos” que, sem dúvida, são: “intrigantes e audaciosos”, bem como falaciosos e desonestos no exercício do poder.

POLITICALHA

O termo política é, às vezes, mal empregado e não devidamente compreendido
levando as pessoas a uma confusão muito grande: a ponto de dizerem que detestam a política.
Quando analisada a causa que as leva a afirmar que detestam a política
compreende-se claramente que essas pessoas detestam e se indignam com a
“politicalha” ou “politicagem”, ou seja, as ações daqueles que estão atuando na política partidária, quer no Poder Executivo ou no Poder Legislativo e agem de maneira desonesta, não ética, para atingirem seus objetivos egoísticos emoldurados pela corrupção ativa ou passiva.
E elas estão muito certas em sentirem essa indignação, contudo só a indignação não basta. É necessário que a ação social de repúdio se realize no engajamento aos movimentos de “saneamento” da política partidária.
É preciso melhor compreender os significados do termo política, através de uma educação política que possibilite o exercício consciente da cidadania.

Ante o mau exercício da política por pessoas desonestas, falsas, corruptas, de mau caráter é que a indignação dos bons deve se elevar para evitar que assumam os cargos nos quais visam exclusivamente seus interesses pessoais e dos grupos que participam.
Obviamente, diferente é quando se almeja o interesse pessoal ou de grupo com aspirações legítimas e éticas para o bem comum.

CONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE JUSTA E AMOROSA

Juntamente com os bons cidadãos, os espíritas devem participar e influenciar levando os valores éticos do Espiritismo para as pessoas e instituições que organizam a sociedade.
Essa é uma lídima participação política para uma sociedade mais justa e
amorosa na qual se consolidará o Reino de Jesus, expresso no Mundo de Regeneração que os Orientadores Espirituais assinalaram para o nosso educandário planetário – a Terra, em seu próximo passo na escala evolutiva.
Assim, que cada espírita esteja consciente para assumir a sua cidadania no exercício do seu poder político: seja como eleitor amoroso e responsável ou de conformidade com a sua aptidão e vocação pleitear cargos eletivos para servir à coletividade; bem como, devidamente habilitado, concorrer aos cargos do Poder Judiciário.
O que não deverá ser feito é levar a política partidária para dentro dos Centros, das Entidades ou do Movimento Espírita, pois esses locais não são adequados ao seu exercício.
Fazer do voto um elevado testemunho de amor à coletividade, visando sempre o aprimoramento da sociedade para o Mundo de Regeneração.
Estamos na transição!
Se estiver de acordo, exerça a sua cidadania e divulgue este texto. Será uma autêntica ação social para o Bem.

Aylton Paiva – paiva.aylton@terra.com.br

O PASSE ESPÍRITA

Aluney Elferr Albuquerque Silva


   Sobre o assunto, Kardec tratou sobre o aspecto geral de CURAS e nos demonstra que "este gênero de mediunidade consiste, principalmente, no dom que possuem certas pessoas de curar pelo simples toque, pelo olhar, mesmo por um gesto, sem o uso de qualquer medicação". (L. M. Cap. Xiv - 175 - 2 Parte).
Kardec questionava, pois entendia que o fenômeno não passava de magnetismo, mas sua perspicácia de cientista demonstrava que alguma coisa a mais existia.

   Expôs que geralmente todos os magnetizadores são aptos a curar. Examinando mais profundamente o assunto, nos demonstra que diferente do magnetizador é o médium curador, uma vez que esta faculdade é espontânea, e que alguns a possuem sem terem tido, jamais, conhecimento do magnetismo. É assim que nos assinala que neste caso existe a intervenção de uma potência oculta, que é o que realmente constitui e caracteriza a mediunidade.

   No item 176, do capítulo mencionado, Kardec formula uma série de perguntas que é importante analisar.

"Pergunta - Podem considerar-se as pessoas dotadas de força magnética como formando uma variedade de médiuns?
Resposta - Não há que duvidar.

Pergunta - Entretanto, o médium é um intermediário entre os Espíritos e o homem; ora, o magnetizador, haurindo em si mesmo a força de que se utiliza, não parece que seja intermediário de nenhuma potência estranha.
Resposta - É um erro; a força magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos Espíritos que ele chama em seu auxílio... ele aumenta a tua força e a tua vontade, dirige o teu fluido e lhe dá as qualidades necessárias".

   Por aí vemos que no mecanismo da cura pelo Passe, são os Espíritos que conduzem o processo, pois que:
  • Aumentam nossos fluidos
  • Dirigem nossos fluidos
  • Qualificam nossos fluidos
   Na 6ª pergunta, desejando saber se nas pessoas que possuem o dom de curar, se haveria também ação magnética ou apenas influência dos Espíritos, obteve como resposta: "uma e outra coisa. Essas pessoas são verdadeiros médiuns, pois que atuam sob a influência dos espíritos".

 

CONCEITOS


   Segundo Kardec, a ação fluídica se transmite de perispírito a perispírito, e deste ao corpo material. (Rev. Espírita - Ano Viii - Setembro 1865 - Volume 9 - Pag. 258).

   Tal assertiva é hoje comprovada cientificamente, o que demonstra o papel importantíssimo do perispírito na economia orgânica. A comprovação temos em várias obras e principalmente no livro de Sheila Ostrander e Lynn Shoroeder, "Experiências Psíquicas Além da Cortina de Ferro", à pag. 243, quando nos diz: "Os trabalhos preliminares com a fotografia Kirliana até agora parecem indicar que a cura psíquica envolve uma transferência de energia do corpo bioplasmático do curador para o corpo bioplasmático do paciente.

   Sendo o intermediário entre o corpo e o espírito o perispírito possui esta característica de receptor e transmissor.

   As mudanças ocorridas nesse nível finalmente se refletem no corpo físico e, segundo se afirma, curam-no.

   Que é o Corpo Bioplasmático, energético, da ciência?

   Nada mais que o Perispírito, que Kardec nos revelou há 142 anos.

   Assim é que segundo Kardec, o passe, é a transferência de fluidos de perispírito para perispírito. (A Gênese - Cap. Xiv - Item 31).

   No movimento espírita, existem outros conceitos, tais como:

"É uma transfusão de energias psíquicas..."
(Emmanuel - O Consolador - questão 99)

"É uma transfusão de energias regeneradoras..."
(Marco Prisco - Ementário Espírita)

"Não é unicamente transfusão de energias anímicas. É o equilibrante ideal da mente, apoio eficaz de todos os tratamentos".
(André Luiz - Opinião Espírita - cap. 55)

"...O passe é transfusão de energias fisio-psíquicas, operação de boa vontade, dentro da qual o companheiro do bem cede de si mesmo em teu benefício".
(Emmanuel - Segue-me - cap. O PASSE).

 

A FÉ E SUA INFLUÊNCIA NOS PROCESSOS DE CURAS

  
   Verificamos três importantes assuntos no campo do passe, que são também deveras preponderantes para que a ação fluídica transmitida ao enfermo possa gerar profundo restabelecimento.

   O poder da fé demonstra, de modo direto e especial, na ação magnética; por seu intermédio, o homem atua sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá uma impulsão por assim dizer irresistível.

   Daí decorre que, aquele que, a um grande poder fluídico normal, junta a FÉ, pode só pela força de sua vontade dirigida para o bem, operar esses singulares fenômenos de cura e outros mais, tidos antigamente por prodígios, milagres, mas que não passam de efeitos de uma lei natural, tal o motivo que levou a Jesus dizer a seus apóstolos: "Se não curastes, foi porque não tendes fé". (Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap 7).

   Na verdade não há muito o que interpretar destas palavras de Kardec; apenas queremos aqui ressaltar a ponte existente entre a fé e a ação fluídica por obra da força de vontade. Torna-se desnecessário dizer, que na ausência da fé, por parte do passista, é a anulação prática de seu poder fluídico e, no paciente é a falta do catalisador fundamental do restabelecimento. Conforme Kardec nos assevera : "Entende-se por fé a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim." . A A fé que compreendendo o mecanismo de atuação acredita patentemente na assistência invisível no momento da ação fluídica. Não vamos confundir a fé com presunção, pois a fé é humilde.

   Tanto quem doa como também quem recebe esta fé deverá ser uma diretriz muito importante no resultado das atividades fluidoterápicas.

 

MERECIMENTO


  Para podermos em profundidade entender o merecimento faz-se necessário recorrer à teoria da reencarnação. Como esse tema, por si só, comporta muitos volumes e não é o nosso objetivo nesse estudo, nos limitaremos a um raciocínio de Kardec, simples e por demais objetivo, o qual se não leva os descrentes a aceitar a reencarnação, pelo menos os induz a pensar e reconhecer, logicamente que sua possibilidade é mais racional e justa que sua negação pura e simples. "Por virtude do axioma segundo o qual todo efeito tem uma causa, tais misérias (doenças incuráveis ou de nascença, mortes prematuras, reveses da fortuna, pobreza extrema, etc.) são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, ao efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na visa atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente a esta." (Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap 5).

   Isto posto, afiançamos que a questão do merecimento está diretamente ligada aos débitos do passado, tanto desta quanto de outras vidas, como aos esforços que vimos empreendendo para nos melhorarmos física, psíquica, moral e espiritualmente.
Porventura, se na vida anterior envolvemos a nós mesmos em pesados delitos, tendo comprometido igualmente nosso perispírito, teremos que assumir também as conseqüências de tais mazelas. Sendo o nosso órgão espiritual comparado a uma esponja que a tudo absorve, seguramente transferirá ao novo corpo as deficiências localizadas, as quais, dependendo da extensão e gravidade das faltas, demorarão para se reharmonizar, envolvendo-nos no aprendizado de valorização das reais finalidades orgânicas.

   Por outro lado, se temos qualquer problema, que tomamos aqui, o fumo, e devido a esse fumo temos problemas pulmonares e queremos nos tratar, mas não largamos o cigarro, por mais ingentes sejam os esforços fluídicos empregados para o restabelecimento, tudo redundará em falhas ou ineficiência, no mesmo caso acontece, com os problemas psíquicos (cármico), e não nos esforçamos por melhorar nosso mundo mental, nosso padrão vibratório, nosso campo psíquico, dificilmente conseguiremos atingir nosso desiderato. Situações tais, vulgarmente chamadas de "ausência de merecimento", são fatores a serem considerados nos tratamentos fluidoterápicos.

   Como a situação da falta de merecimento está vinculada diretamente com nossa inferioridade, poucos são os que aceitam tal explicação com tranqüilidade, pois, mesmo sendo quem somos, nos acreditamos melhores do que na realidade o somos e , por isso mesmo queremos "driblar" a espiritualidade fazendo rápidas e curtas e diria também sem sentimentos boas ações, com isso imaginando adquirir a "senha" do merecimento. E Aí, verificamos algumas opiniões sobre os passistas, no sentido de que eles não são "bons", não estão "amparados pelos espíritos", que não "servem para tal", e outras mais, todavia costumeiramente nos esquecemos que às vezes existe maior merecimento em continuar enfermo do que saudável.

   Finalizando, diremos que não existe tratamento impossível, pitadas de altivez, animo, força de vontade, crescimento moral, fé são também disposições que permitimos a nós mesmo para uma futura melhoria física ou espiritual. E lembrando a máxima de Jesus que " a fé transporta montanhas".

 

A VONTADE


   Iniciemos seu estudo com Kardec: " Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo. Porém, como há de explicar a ação material de tão sutil agente? - A vontade é atributo essencial do espírito. Com o auxílio desse alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.
   Tanto quanto do espírito errante, a vontade é igualmente atributo do espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe esta na razão direta da força de vontade. Podendo o espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. (Livro dos Médiuns, cap 8, item 131).

   A clareza e a objetividade destas palavras não nos deixam dúvidas. Tratam desde a origem, a sede da vontade, até seu alcance, sua desenvoltura, ligando-lhe a intensidade tais sucessos magnéticos da cura. A vontade, não podendo ser confundida como uma técnica em si, é a propulsora da ação fluidoterápica por excelência, tanto a nível de emissão fluídica como de recepção. Falamos recepção, pois também somos conhecedores que a vontade firme de receber absorve com maior profundidade e eficiência a ação fluídica do magnetizador e dos espíritos envolvidos na tarefa.

   E os espíritos ainda, nos garantem que ela ( a vontade) pode ser aumentada por suas influências e ajuda, indiretamente confirmando-nos que, de fato, somos por eles dirigidos. (Livro dos Espíritos, questão 459).
" Compreendemos que a matéria mental é o instrumento sutil da vontade, atuando nas formações da matéria física, gerando as motivações de prazer ou desgosto, alegria ou dor, otimismo ou desespero, que não se reduzem efetivamente a abstrações, por representarem turbilhões de força em que a alma cria os seus próprios estados de mentação indutiva, atraindo para si mesmo os agentes de luz ou de sombra, vitória ou derrota, infortúnio ou felicidade". (André Luiz, Mecanismos da Mediunidade, cap 4 - Indução mental).

   Então verificando todo o explanado acima, concluímos generalizando que só seremos bons passistas se, além dos caracteres anteriormente já analisados, possuirmos uma vontade firme e ativa, a qual é construída com ação e vivência consciente, e não só com palavras.

 

O PASSISTA

  
   " A mediunidade curativa consiste no dom que certas pessoas tem de curar pelo simples toque, pelo olhar ou por um gesto. Sem o concurso de qualquer medicação, sendo o médium um intermediário entre os espíritos e o homem. (Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, cap 14) É claro que não nos reportamos aos magnetizadores que desenvolvem as forças que lhe são peculiares, no trato as saúde humana. Referimo-nos, sim, aos intérpretes da espiritualidade superior, consagrados à assistência providencial dos enfermos para encorajar-lhes a ação, pois caracteriza-se mediunidade, desde que haja influência exterior ou melhor dizendo, espiritual. Decerto, o estudo da constituição humana lhes é naturalmente aconselhável, tanto quanto ao aluno de enfermagem, embora não seja médico, se recomenda a aquisição de conhecimentos do corpo em si. E do mesmo modo que esse aprendiz de rudimentos da medicina precisa atentar para a assepsia do seu quadro de trabalho, o médium passista necessitará vigilância no seu campo de ação, porquanto de sua higiene espiritual resultará o reflexo benfazejo naqueles que se proponha socorrer.

   "Os encarnados de um modo geral, poderiam colaborar em semelhantes atividades de auxílio magnético?

 Perguntou André Luiz.

   Todos, com maior ou menor intensidade, poderão prestar concurso fraterno, nesse sentido - e, porquanto, revelada a disposição fiel de cooperar a serviço do próximo, por esse ou aquele trabalhador, as autoridades de nosso meio designam entidades sábias e benevolentes que orientam indiretamente a neófito, utilizando-lhe a boa vontade e enriquecendo-lhe o próprio valor.

   Todavia nas atividades de assistência espiritual, o passe é das tarefas mais delicadas, exigindo muito critério, responsabilidade e boa vontade. Os médiuns precisam revelar algumas qualidades de ordem superior entre as quais destacamos, como ideal a ser perseguido, as seguintes: (André Luiz, em Missionários da Luz, cap 19).

  • Ter grande domínio sobre si mesmo
  • Espontâneo equilíbrio dos sentimentos
  • Acendrado amor aos semelhantes
  • Alta compreensão da vida
  • Profunda confiança no Poder Divino". 

   O passista é aquele que ministra o passe. Ser um passista espírita é uma tarefa de grande responsabilidade, pois trata-se de ajudar e abençoar as pessoas em nome de Deus. Pessoas carentes e sedentas de melhoria, procuram no centro espírita o recurso do passe como forma de alívio das pressões psicológicas e sustentação para suas forças morais e físicas.

   O passista não precisa ser um santo, mas necessita esforçar-se na melhoria íntima e no aprendizado intelectual, conforme acima vemos. Armado do desejo sincero de servir, quase todos os iniciantes podem trabalhar neste sagrado ministério. O passista deve procurar viver uma vida sadia, tanto física quanto moralmente. Aos poucos, os vícios terrenos têm que ceder lugar às virtudes. O uso do cigarro e da bebida devem ser evitados. Como o passista doa de si uma parte dos fluidos que vão fortalecer o lado material e espiritual do necessitado, esses fluidos precisam estar limpos de vibrações deletérias oriundas de vícios.

   No aspecto mental, o passista deve cultivar bons pensamentos no seu dia-a-dia. O orgulho, o egoísmo, a maledicência, a sensualidade exagerada e a violência nas atitudes devem ser combatidos constantemente. A Espiritualidade superior associa equipes de Benfeitores aos trabalhadores que se esforçam, multiplicando-lhes a capacidade de serviço.

   A fé racional e a certeza no amparo dos bons Espíritos são sentimentos que devem estar presentes no coração de todos os passistas. É fundamental no trabalho de passe, doar-se com sinceridade à tarefa sob sua responsabilidade, vendo em todo sofredor uma alma carente de amparo e orientação.

   O passista não deve ter preferência por quem quer que seja. Seu auxílio deve ser igualmente distribuído a todas as criaturas. As elevadas condições morais do passista são fundamentais para que ele consiga obter um resultado satisfatório no serviço do passe.
Portanto, todos podemos ministrar passes, porém é necessário um mínimo preparo moral a fim de que a ajuda seja o mais eficaz possível. Como todas as tarefas realizadas dentro do centro espírita, esta também carece de cuidados e atenção por parte de quem se propõe a executá-la.

“Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, muitas vezes basta impor as mãos sobre a dor para a acalmar; é o que pode fazer qualquer um, se trouxer a fé, o fervor, a vontade e a confiança em Deus” - (Allan Kardec - Revista Espírita, Setembro, 1865).

 

CONDIÇÕES FÍSICAS DO PASSISTA


   Deste ponto de visualização, poderia parecer à primeira vista que apenas aqueles que têm bom condicionamento físico são passíveis de aplicar passes. É fora de dúvidas que uma saúde perfeita, um corpo sem doenças, favorecerá enormemente na função de uma boa doação fluídica, transmitindo de uma forma mais harmônica e profunda os fluidos salutares. Mas, por todo o estudo que até aqui sintetizamos, é bem fácil verificar que isso não é tudo; afinal, são inumeráveis os casos de pessoas que são socorridas por outras mais débeis e frágeis fisicamente, mas, nem por isso, os alcances são menos expressivos.
  
   Todavia, neste trabalho, de modo algum estamos querendo menosprezar o valor do equilíbrio orgânico do médium passista, notadamente daquele que doa as suas próprias energias.

   Vejamos como pensa Michaelus em seu Livro Magnetismo Espiritual: " Um corpo sem saúde não pode transmitir aquilo que não possui; a sua irradiação seria fraca, ineficaz e mais nociva do que útil, para si e para o doente".

   "Deve-se, entretanto, distinguir entre uma pessoa incessantemente doente da que é apenas atingida de uma doença local, um mal de estômago, dos rins, etc., embora de caráter crônico." (Michaelus, no mesmo livro, cap 7).

   Apesar de parecer contraditório, a saúde é importante ser velada, mas, de igual modo, não é tudo. Afinal, como o fluxo magnético provém não só do corpo senão essencialmente da alma, é desta que devemos cuidar em primeiro lugar. Só que é indissociável o cuidar de uma sem o zelar da oura. Outrossim, o estado físico, por si só, não diz tudo o que precisa ser observado; já dissemos em outros capítulos, que a mentalização negativa destrói, desintegra, perturba nossos campos fluídicos equilibrados e equilibrantes, donde fácil concluir que o físico não é sobrevalente ao estado mental.

   De forma alguma, como já expressamos acima, queremos dizer que o zelo pela saúde não seja necessário, pois, o é realmente. Em primeiro lugar por estarmos cuidando do veículo de manifestação de nosso espírito na terra, para através dele poder aprender, viver e obrar. Em segundo lugar que aquele que doa algo, deverá profundamente se preocupar com o que estar doando, para que não prejudique aquele que recebe, ao invés de o ajudar.

   Preocupamo-nos aqui, também com a alimentação, pois conforme André Luiz nos diz em seu Livro Missionários da Luz, cap 19: " "O excesso de alimentação produz odores fétido, através dos poros, bem como das saídas dos pulmões e do estômago prejudicando as faculdades radiantes devido às desarmonias que geram no aparelho gastrointestinal. O álcool e outras substâncias tóxicas operam distúrbios nos centros nervosos, modificando certas funções psíquicas e anulando os melhores esforços na transmissão de elementos regeneradores e salutares".

   A saúde, como podemos verificar, é uma das condições primordiais para o trabalho do passe.

   Se o médium não tem uma saúde, ao menos, harmônica, como poderá transmiti-la?.

   Os fluidos que saem através do passista é lógico que vão impregnados de saúde ou de mazelas segundo a situação de que o médium se encontre.

   A vontade que movimenta os fluidos regeneradores, capazes de rearmonizar o perispírito ou o organismo enfermiço, pode manipular fluidos deletérios pelo mesmo mecanismo, criando ou até mesmo acentuando males em curso de instalação ou de desenvolvimento. O passista poderá receber fluidos puros, estes, porém, serão tisnados ao contato de suas próprias emanações individuais que lhe alteram o teor regenerativo, poluindo-os antes de transferi-los ao amigo enfermo.

 

CONDIÇÕES MORAIS


   Fazendo uso da palavras do Codificador em o Livro dos Médiuns, cap 20, compreenderemos de uma maneira mais alargada a função da moral em torno do passe:

" Se o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento, exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. A alma exerce sobre o espírito livre um espécie de atração, ou repulsão, conforme o grau da semelhança existente entre eles. As qualidades, que de preferência, atraem os bons espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria. Além disso, a porta que os espíritos imperfeitos exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é a que a criatura menos confessa a si mesma. O orgulho tem perdido muitos médiuns dotados das mais belas faculdades".

   Na Revista Espírita de Outubro de 1867, Kardec publicou uma mensagem do Abade Príncipe de Hohenlohe muito interessante:

"Conforme o estado de vossa alma e as aptidões do vosso organismo, podeis, se Deus vo-lo permitir, tanto curar as dores físicas quanto os sofrimentos morais, ou ambos. Duvidais de ser capaz de fazer uma ou outra coisa, porque conheceis as vossas imperfeições . Mas Deus não pede a perfeição, a pureza absoluta dos homens da terra. A esse título, ninguém entre vós seria digno de ser médium curador. Deus pede que vos melhoreis, que façais esforços constantes para vos purificar e vos leva em conta a vossa boa vontade. Melhorai-vos pela prece, pelo amor ao Senhor, de vossos irmãos e não duvideis que o Todo-Poderoso não vos dê as ocasiões freqüentes de exercer vossa faculdade mediúnica. Até lá orai, progredi pela caridade moral, pela influência do exemplo".

   Noutra oportunidade o Codificador indagou ao espírito Annonay, sonâmbula de uma lucidez notável, a qual ele conhecera quando encarnada: (Revista espírita, Março de 1859)

"27 - O poder magnético do magnetizador depende de sua constituição física?
Sim, mas muito de seu caráter. Numa palavra; depende de si próprio.

30 - Quais as qualidades mais essenciais para o magnetizador?
O coração, as boas intenções sempre firmes; o desinteresse.

31 - Quais os defeitos que mais o prejudicam?
As más inclinações, ou melhor, o desejo de prejudicar".

   Verificamos que o fluido emanado por nós será sempre mais depurado a medida que formos mais puros e despendidos da matéria, a medida que darmos mais valor aos bens espirituais em detrimento das coisas materiais.

"As qualidades do fluido humano apresentam nuanças infinitas, conforme as qualidades físicas e morais do indivíduo. É evidente que o fluido emanado de um corpo malsão pode inocular princípios mórbidos ao magnetizado. As qualidades morais do magnetizados, isto é, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e desinteressado de aliviar o seu semelhante, aliado à saúde do corpo, dão ao fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das qualidades do fluido espiritual". (Revista Espírita, Setembro de 1865).

   Reflitamos no que nos diz o espírito Alexandre em o Livro Missionários da Luz, cap 19:
"O missionário do auxílio magnético, na Crosta terrestre ou aqui em nossa esfera, necessita ter grande domínio sobre si mesmo, espontâneo equilíbrio de sentimentos, acendrado amor aos semelhantes, alta compreensão da vida, fé vigorosa e profunda confiança no Poder Divino".

   Não pensemos, todavia, que isso só se aplica aos espíritas. A moral é chave fundamental para todos os povos. "Os curandeiros, mesmo aqueles que não são vistos com os bons olhos da humanidade, inclusive uma grande parte espírita, são portadores de virtudes enobrecedoras e, sem dúvida, isso é fundamental para seus sucessos". (George W. Meek, em As Curas Paranormais ).

   Através de todas estas análises, sentimos como o posicionamento moral do médium é muito importante para o sucesso de sua tarefa. Não esperemos, pois, que os pacientes sejam sempre "bonzinhos" e que os espíritos estejam sempre "na agulha" para agiram ao nosso "estalar de dedos", sem que sejamos nós os primeiros a estarmos prontos, física e sobretudo, moralmente para o trabalho. Não seria de se pensar diferente. A moral há de ter importância preponderante nos trabalhos fluídicos, já que o meio onde os fluidos são processados é basicamente mental (para não dizer espiritual). A mente determina a vibração fluídica a partir da vontade e esta libera os fluidos, tonificando-os pelo padrões psíquicos dos emissores; estes fluidos serão tão melhormente consistentes e harmonizados quanto maior equilíbrio tiver a moral dos doadores.
   Assim, deixando de lado as condições do receptor final (paciente), a emissão fluídica assume o cunho de pureza determinada pela moral em que vibram os emissores.

 

CONDIÇÕES MENTAIS


   Ondas vitais, essenciais, pensamentos, idéias, desejos e etc...

   Tudo isso age e reage sobre os outros seres, influenciando-os em sua vontade, sentimentos, pensamentos e atos. E tudo se reflete na radiação tonal, na aura individual, criando atmosfera boa ou má, atrativa ou repulsiva, saudável ou enfermiça. Para termos este campo vibratório em uma condição menos deplorável, é imprescindível que tomemos em conta nosso direcionamento mental, em que diapasão estamos tratando de vibrar, para sabermos o que iremos receber, pois, as afinidades vibratórias [e que regulam esse intercâmbio de dar e receber, no plano invisível, forças e fluidos. Facilitando ou dificultando ainda mais, o trabalho da espiritualidade responsável pelos trabalhos de fluidificação.

   Estas condições que ora abordamos estão profundamente relacionadas com as anteriores, ou seja, as condições morais do médium passista

   Vamos ainda pensar nas condições psicológicas do médium ante o serviço do passe. Muitas publicações têm surgido em nossos tempos, sobre o poder da mente, com colocações, diríamos, nem sempre bem ponderadas. Isto porque, na maioria delas, enfatiza-se o "querer é poder", mas, atribuindo ao querer a simples repetitividade, até meio irracional, de palavras ou frases "chaves". Os médiuns hão de desenvolver condições íntimas de fé e confiança, que se adquirem com muito labor. A alma exerce sobre o espírito livre uma espécie de atração ou repulsão, conforme o grau de atitudes cultivadas existentes entre eles. A mente esta presente como ponto de muita relevância nas manifestações mediúnicas, pois o cérebro é um aparelho emissor e receptor de ondas mentais; o pensamento é um fluxo energético do campo espiritual, ou seja, se não tentarmos manter-nos em um estado constante de reforma mental, na construção de pensamentos melhores, seguramente estaremos também prejudicando esta manifestação de amor através do passe. Pois atraímos a sintonia que cultivamos. O Cultivo da mente pura é nosso dever, já que como vimos, ela é o filtro por onde passam as benesses que favorecerão nosso próximo e, por conseguinte, a nós mesmos.

   A energia transmitida pelos amigos espirituais circula primeiramente na cabeça dos médiuns (só para recordar, lembremos onde fica o Centro Coronário e qual a sua importância).

   O cérebro é como um aparelho emissor e receptor de ondas mentais; o pensamento é um fluxo energético do campo espiritual.

   A vibração é um movimento de vaivém, chama-se movimento vibratório.

   Sintonia é a identidade ou harmonia vibratória, isto é, o grau de semelhança das emissões ou radiações mentais de dois ou mais espíritos, encarnados ou desencarnados, ou seja, afinidade moral.

   Sabemos que o pensamento é um fluxo fluídico, é matéria sutil do corpo espiritual, logo é concreto e às vezes muito visível, podendo perdurar longamente em dadas circunstâncias.

   Portanto o padrão vibratório é uma maneira de definir o padrão moral do espírito. Atraímos as mentes que possuem o mesmo padrão vibratório nosso, que estão no mesmo nível moral. A comunicação interespiritual é controlada pelo grau de sintonia, a qual a seu turno, decorre da afinidade moral. Temos por isso, a companhia espiritual que desejamos mediante o nosso comportamento, sentimentos, pensamentos e aspirações. Estão ao nosso redor aqueles que sintonizam conosco ou têm contas a ajustar.

   É o caso e a hora de perguntar: como podemos elevar cada vez mais as nossas vibrações e, assim, aprimorar a capacidade de sintonia e vibração? - Enriquecendo o pensamento por meio do desenvolvimento da INTELIGÊNCIA; - estudo, conhecimento. SENTIMENTO; - prática do bem, serviço prestado, moralidade, em suma, auto-aperfeiçoamento pelo esforço próprio no caminho do bem. Com particular aplicação à Mediunidade, que não progride sem o aprimoramento do médium.

   Em virtude do princípio de sintonia, estabelece-se uma dependência entre encarnados e desencarnados quando ambos estão perturbados e emitindo vibrações viciadas. A identidade vibratória inferior, no caso do ódio, ressentimento, tristeza, desânimo, etc., prende os desencarnados mais ou menos inconscientes do seu estado na aura magnética dos encarnados.

 

QUEM RECEBE (O PACIENTE)


   Conforme já estudamos, basicamente são dois os personagens que se interligam no mecanismo do passe: o receptor e o doador.

   Por isso, o sucesso ou insucesso de um tratamento fluidoterápico depende, diretamente, do comportamento deles.

   Ë necessário um comprometimento, não somente no momento do passe, todavia um comprometimento necessário a mudança íntima do ser, em seus atos diários, na forma de pensar e agir.

   Este é um pensamento genérico, haja vista sabermos que vários fatores influem no processo, os quais nem ao menos se limitam à esfera material. Todavia no momento veremos quem recebe. Não sabemos de onde veio, por onde veio, que religião tem. Mas sabemos o essencial: ele é o nosso próximo, e está, ali necessitando de ajuda e colocando-se na condição de recebedor, que é indubitavelmente condições iniciais para qualquer tratamento, assim como o arrependimento é indiscutivelmente necessário para qualquer processo de restabelecimento de contas com a bondade Divina, todavia deverá vir juntamente com a reparação, para receber algo que esta querendo ou necessitando e principalmente se propôs a receber algo, que é para nós, os médiuns, os dirigentes e as Casas Espíritas, um bom caminho para a prática do amor fraternal, desinteressado e cristão. Portanto, mãos à obra.

   Primeiro, nos conscientizemos de que devemos dar ao paciente, além do passe, tudo o mais que é da maior importância: evangelho, orientação, desmistificação do tratamento e desmistificação dos ídolos, conclamando-os à reforma interior e à compreensão dos fatos para, pelo conhecimento, não ser levado a vícios e equívocos que, embora costumeiros, são injustificáveis.

   Como homens, sabemos que a administração do patrimônio orgânico é tarefa pessoal e intransferível, estando não apenas sua manutenção sobre nossa responsabilidade, mas, igualmente sua conservação dentro dos padrões de equilíbrio que a própria natureza nos indica. Emmanuel em o Consolador salienta que: “Quando, porém, o homem espiritual dominar o homem físico, os elementos medicamentosos da Terra estarão transformados na excelência dos recursos psíquicos e essa grande oficina achar-se-á elevada a santuário de forças e possibilidades espirituais juntos das almas”.

   Podemos destacar entre os que recebem o passe os seguintes tipos de pacientes:

 

Paciente com problemas físicos


  Incluem os pacientes que apresentam problemas orgânicos, desprezando qualquer fator que não seja puramente físico. Subdividiremos este grupo de pacientes em três:

 

Portadores de doenças contagiosas


   O passista não deve negar atendimento a essa categoria por medo de contágio, todavia devemos ter o bom senso de não expor alguém que venha em busca de auxílio ao contágio de outro mal. Tal como não será cristão dispor o contagiante que igualmente busca ajuda, ao ridículo da execração de outrem. A prudência nos sugere discernimento e tato.

 

Portadores de doenças não contagiosas


   O paciente aqui enquadrado não expõe outros a risos de contágio, seu atendimento poderá ser feito tanto de forma individualizada quanto em grupo, dependendo do tratamento e das técnicas a serem usadas.

 

Pacientes com problemas espirituais


   Pacientes nessas circunstâncias sentem com muita freqüência a “influência ou a aproximação” de entidades espirituais, quando recebem o passe. Deveremos ai utilizar das técnicas mais designadas a esse tipo de problema, desligando o “plug”, encarnado – desencarnado para os devidos tratamentos.
Dividiremos também este grupo em três subdivisões:

  • De origem Prispirítica (Cármica)
  • De origem Obsessiva
  • Decorrentes de desvios Morais

 

Pacientes com ambos os problemas


   Verificamos aqui, os pacientes com problemas físicos (orgânicos) e psíquicos (espirituais)
  
Mais uma vez nos deparamos com a prudência em analisar e principalmente nunca, descartar o tratamento da medicina convencional para alguns casos. Através do estudo, sempre conjugado à intuição espiritual, podemos avaliar a maior valência do problema do paciente para bem direcionar o tratamento. Caso prevaleça o aspecto físico, recomenda-se os cuidados descritos para pacientes com estes problemas.
  
   Contudo, o bom senso nos recomenda não fazermos distinção tão marcante, notadamente porque os espíritos serão os verdadeiros ‘operadores” e, quase sempre, serão eles que encaminharão todo o processo, abstração feita à responsabilidade dos médiuns.

   A paciência também será grandioso instrumento para este tratamento, paciência esta, por parte do paciente e do passista.

   Assim o passe é destinado a:

  • Alguém que procura, solicita, se esforça ou requer emergência;
  • Alguém que se encontra hipnotizado magneticamente, quer por força material ou por força espiritual;
  • Alguém que necessita de recursos terapêuticos complementar, reparatório ou preparatório;
  • Alguém que está sob influencia obsessiva, como parte do tratamento obsessivo.

 

PREPARO DO PASSISTA E DO PACIENTE


   Kardec ( obras póstumas ) nos informa que "A força magnética é puramente orgânica; pode, como a força muscular, ser partilha de toda gente, mesmo do homem perverso; mas só o homem de bem se serve dela exclusivamente para o bem... mais depurado, o seu fluido possui propriedades benfazejas e reparadoras, que não pode ter o homem vicioso ou interessado."

   Analisando esta assertiva, concluímos que, para que exista um perfeito entrosamento Espírito protetor - passista, e para o Espírito que vem auxiliar possa realmente combinar o seu fluido com o fluido humano, lhe imprimindo qualidades de que ele carece, é necessário que o passista dê condições para que esse intercâmbio se faça, condições essas de natureza física e espiritual.

   A saúde do passista é uma condição primordial para a realização de um bom trabalho. Assim, como a qualidade do fluido está na razão direta do estado de evolução da alma, assim também, a maior ou menor eficiência da magnetização, depende da saúde do corpo físico; a razão é clara: um corpo sem saúde não pode transmitir aquilo que não possui.

   Quanto mais equilibrado o organismo, maior o rendimento de suas energias, que serão partilhadas. De um modo geral, deve-se evitar tudo quanto implica em desgaste ou perda de energia: Excessos sexuais, trabalhos demasiados, alimentação imprópria, hiperácida, bem como o álcool, a nicotina e os entorpecentes de toda a espécie.

   Para o passista, na execução da tarefa que lhe está subordinada, não basta a boa vontade, como acontece em outros setores; é necessário revelar determinadas qualidades de ordem superior, apresentando grande domínio de si mesmo, espontâneo equilíbrio de sentimentos, acentuado amor aos semelhantes, alta compreensão da vida, fé vigorosa e profunda, confiança no poder divino.
Semelhantes requisitos constituem exigências a que não se pode fugir, mas a boa vontade sincera, em alguns casos pode suprir essa ou aquela deficiência, o que se justifica em virtude da assistência prestada pelos benfeitores espirituais aos servidores humanos, ainda incompletos no terreno das qualidades desejáveis.

   A prece representa elemento indispensável para que a alma do passista estabeleça comunhão direta com as forças do bem, favorecendo assim, a canalização através da mente, dos recursos magnéticos necessários das esferas elevadas.

   Não se deve também abusar da magnetização, com processos prolongados ou em grandes quantidades, o que ocasiona dispêndio de fluidos, e conseqüentemente, a fadiga. Não se deve transmitir uma força já em grau de esgotamento, a qual não beneficia quem recebe, e prejudica quem transmite.
Resumindo, vida sóbria e moderada, sem abusos, desequilíbrios, sem excessos e desvios, é o que se prescreve ao magnetizador.

   Existem doentes, em que o magnetismo nenhuma influência exerce, e outros em que a ação desde logo é evidenciada e decisiva, por fatores devido ao magnetizador, ao magnetizado, ou a ambos.
Preparar um doente para aplicação do devido tratamento espiritual, é colocá-lo em estado de perfeita harmonia com a fé em Deus.

   Alguns itens deverão ser observados para a preparação do paciente, tais como o ambiente familiar, a sua posição mental e o estado espiritual.

   O principal agente de cura, reside no próprio doente: é o desejo de transformação interior, e a elevação mental. Com isso, muito mais eficiente será a ação da magnetização, e do auxílio do mundo espiritual superior, far-se-á mais naturalmente.

   O magnetismo, em certos estados de ordem psíquica ou espiritual, basta e pode ser o melhor agente corretivo. Porém não se pode ter o magnetismo, como agente curador exclusivo, para a maioria dos casos e dos indivíduos. É preciso atentar para o corpo já afetado, e principalmente, para problemas cármicos, quando então o magnetismo atuará como renovador de energias, para que possa se suportar com fé e equilíbrio, as expiações de vidas pretéritas.